Passado um mês após a implantação do Ensino Médio Politécnico nas escolas estaduais do Rio Grande do Sul, é momento de iniciarmos uma reflexão dessa nova modalidade imposta pela Secretaria Estadual de Educação.
De acordo com a proposta pedagógica
para o Ensino Médio Politécnico e integrada ao ensino médio entre 2011 e 2014,
entre os objetivos e metas, destacam-se: proporcionar atividades voltadas ao
mundo do trabalho, à ciência e à cultura, bem como erradicar os índices de
evasão escolar e reprovação. Segundo a proposta, “constatam-se altos índices de
abandono (13%), especialmente no primeiro ano, e de reprovação (21,7%) no
decorrer do curso, o que reforça a necessidade de priorizar o trabalho
pedagógico no Ensino Médio”.
Chegamos ao mês de abril e nós,
professores, estamos nos deparando com uma realidade que já era visivelmente
previsível.
Primeira: no final do ano passado,
ficamos felizes em saber que das 20 horas semanais, 13 horas seriam destinadas
ao cumprimento em sala de aula e outras 7 horas seriam destinadas ao
planejamento de nossas aulas. Começamos o mês de março com 16 horas em sala de
aula.
Segunda: o Ensino Médio Politécnico
prevê o cumprimento de 3.000 horas no decorrer dos três anos do ensino médio,
sendo necessário a oferta de um contraturno para os alunos. Pois no dia em que
os mesmos que frequentam diariamente a aula no turno da manhã e precisam
comparecer no turno da tarde, escolhem faltar em um ou outro turno. E a meta do
governo de “aumento gradativo da taxa de aprovação e permanência nas escolas de
Ensino Médio na medida da implantação da reestruturação curricular, de 2012 a 2014” já fica defasada; sem
falar nos alunos que trabalham ou fazem algum curso profissionalizante e faltam
à aula. Devemos lembrar que, de acordo com informações repassadas pela
Coordenadoria Regional de Educação, ficou claramente entendido que os alunos
devem frequentar as aulas no contraturno. E aí surge outra questão: as
empresas, os cursos técnicos e profissionalizantes devem liberar os alunos para
virem à escola, ou vice versa? O que é mais importante?
Terceira: com a implantação da
disciplina de Seminários Integrados, os alunos precisam elaborar projetos de
pesquisa integrando a sua vivência com a teoria e a prática, na busca de um
conhecimento tecnológico e científico que os aproximem ao mercado de trabalho.
Ainda de acordo com a proposta do Ensino Médio Politécnico, “[...] deverá ser
destinado um percentual da carga horária dos professores – um de cada área do
conhecimento, para ser utilizado no acompanhamento do desenvolvimento dos
projetos produzidos nos seminários integrados”. O discurso continua: “O
desenvolvimento de projetos que se traduzirem por práticas, visitas, estágios e
vivências poderão também ocorrer fora do espaço escolar e fora do turno que o
aluno frequenta. Para tanto, deverá estar prevista a respectiva ação de
acompanhamento executada por um professor.” E aí vem a questão: quem de nós,
professores, acompanhará o trabalho dos alunos fora do espaço escolar se não
temos carga horária destinada para isso? Sem falar dos momentos em que
ministramos a disciplina de Seminários Integrados e precisamos nos dirigir aos
laboratórios de informática e não temos profissionais habilitados para nos
darem suporte na execução dos trabalhos com os alunos; sendo que muitos não
sabem utilizar um editor de texto e muito menos conseguem enviar um e-mail
anexando arquivos.
Sabemos que a educação escolar
sempre foi e continua sendo alvo de opiniões, críticas e tentativas. Está na
hora de sofrer mudanças, porém, que devam ser pensadas e repensadas dialogando
com os responsáveis que estão em sala de aula. Somos nós, professores, que
sabemos das realidades e desafios enfrentados no dia a dia. Mudanças são
necessárias, sim. Entretanto, não podemos abraçar um projeto no qual os
caminhos não se mostram claros e coerentes. Um mês já se passou e o desafio
está e continua lançado até o final do ano letivo. Não podemos esquecer que,
além de tudo, são nossos alunos que saem prejudicados.
Artigo de Samuel Hübner é professor pós-graduado em Supervisão Escolar
Artigo de Samuel Hübner é professor pós-graduado em Supervisão Escolar
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